terça-feira, 9 de agosto de 2011

Vista aérea da região central de Blumenau - 1950


Vista aérea do Centro de Blumenau em 1950, ano do centenário. Detalhe para a Antiga Igreja Matriz, Colégio Santo Antônio e a "pacata" Rua XV de Novembro...e, sem Avenida Beira Rio.

(Fonte: coleção particular)

domingo, 7 de agosto de 2011

Trem em Blumenau....

Achei no YouTube....




"Imagens do trem da EFSC passando pelo Viaduto da Sul Fabril, pela Ponte de Ferro no Centro e parado na Estação da Martin Luther. No final, um descarrilhamento ocorrido no Bairro Itoupava. Filmado pelo Sr. Willy Sievert (falecido), com equipamento Super 8".

OBS.: Resolveria parte de nossos problemas de mobilidade se ainda estivesse por ai soltando fumaça...

sábado, 6 de agosto de 2011

Machado de Assis: escritor, historiador, contextualizador...atual.

Uma da ótimas crônica de Machado de Assis publicada na imprensa do século XIX.








[2 março] – Machado de Assis
Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro - [180] 


  Se todos quantos empunham uma pena, não estão a esta hora tomando notas e coligindo documentos sobre a história desta cidade não sabem o que são cinqüenta contos de réis. Uma lei municipal votada esta semana, destina "ao historiador que escrever a história completa do Distrito Federal desde os tempos coloniais até a presente época", aquela valiosa quantia. O prazo para compor a obra é de cinco anos. O julgamento será confiado a pessoas competentes a juízo do prefeito.
  Não serei eu que maldiga de um ato que põe em relevo o amor da cidade e o apreço das letras. Os historiadores não andam tão fartos, que desdenhem dos proveitos que ora Lhes oferecem, nem os legisladores são tão generosos, que Lhes dêem todos os dias um prêmio deste vulto. Se todas as capitais da República e algumas cidades ricas concederem igual quantia a quem Lhes escrever as memórias, e se o Congresso Federal fizer a mesma cousa em relação ao Brasil, mas por preço naturalmente maior,—digamos quinhentos contos de réis, —a profissão de historiador vai primar sobre muitas outras deste país.
Há só dous pontos em que a recente lei me parece defeituosa. O primeiro é o prazo de cinco anos, que acho longo, em vista do preço. Quando um homem se põe a escrever uma história, sem estar com o olho no dinheiro, mas por simples amor da verdade e do estilo, é natural que despenda cinco anos ou mais no trabalho; mas cinqüenta contos de réis excluem qualquer outro ofício, mal dão seis horas de sono por dia, de maneira que, em dous anos, está a obra, acabada e copiada. Muito antes do fim do século podem ter os cariocas a sua história pronta, substituindo as memórias do Padre Perereca e outras.
  O segundo ponto que me parece defeituoso na lei, é que a competência das pessoas que houverem de julgar a obra, dependa do juízo do prefeito. Nós não sabemos quem será o prefeito daqui a cinco anos, pode ser um droguista, e há duas espécies de droguistas, uns que conhecem da competência literária dos críticos, outros que não. Suponhamos que o eleito é da segunda espécie. Que pessoas escolhera ele para dizer d os méritos da composição? Os seus ajudantes de laboratório?
Eu, se fosse intendente, calculando que a história do Distrito Federal podia esperar ainda dous ou três anos, proporia outro fim a uma parte dos contos de réis. Tem-se escrito muito ultimamente acerca do Padre José Maurício, cujas composições, apesar de louvadas desde meio século e mais, estão sendo devoradas pelas traças. Houve idéia de catalogá-las, repará-las e restaurá-las, e foi citado o nome do Sr. Alberto Nepomuceno como podendo incumbir-se de tal trabalho. Este maestro, em carta que a Gazeta inseriu quinta-feira, lembrou um alvitre que "torna a propaganda mais prática, sem nada perder da sua sentimentalidade atual, e põe ao alcance de todos as produções do genial compositor". O Sr. Nepomuceno desengana que haja editor disposto a imprimir tais obras de graça, empatando, sem esperança de lucro, uma soma não inferior a quarenta contos. A concessão da propriedade é um presente de gregos. O alvitre que propõe, é reduzir para órgão o acompanhamento orquestral das diversas
composições e publicá-las. Custaria isto dez contos de réis. Ora, se o Distrito Federal quisesse divulgar as obras de José Maurício, empregaria nelas os dez contos do método Nepomuceno, ou os quarenta, se Lhes desse na cabeça imprimir as obras todas, integralmente. Em ambos os casos ficaríamos esperando o historiador do distrito, salvo se houvesse homem capaz de escrever a história por dez ou ainda por quarenta contos; cousa que me não parece impossível.
  Um dos que têm tratado ultimamente das obras e da pessoa do padre, é o Visconde de Taunay. A competência deste, unida ao seu patriotismo, dá aos escritos que ora publica na Revista Brasileira, muito valor; é uma nova cruzada que se levanta, como a do tempo de Porto Alegre. Se não ficar no papel, como a de outrora, dever-se-á a Taunay uma boa parte do resultado.
  Outro que também está revivendo matéria do passado, na Revista Brasileira, é Joaquim Nabuco. Conta a vida de seu ilustre pai, não à maneira seca das biografias de almanaque, mas pelo estilo dos ensaios ingleses. Deixe-me dizer-lhe, pois que trato da semana, que o seu juízo da Revolução Praieira, vindo no último número, me pareceu excelente. Não traz aquele cheiro partidário, que sufoca os leitores meramente curiosos, como eu. A mais completa prova da isenção do espírito de Nabuco está na maneira por que funde os dous retratos de Tosta, feitos a pincel partidário, um por Urbano, outro por Figueira de Melo. Cheguei a ver Urbano, em 1860; vi Tosta, ainda robusto, então ministro, dizendo em aparte a um senador da oposição que Lhe anunciava a queda do gabinete: "Havemos de sair, não havemos de cair!" Nesta única palavra sentia-se o varão forte de 1848. Quanto a Nunes Machado, trazia-o de cor, desde menino, sem nunca o ter visto: é que o retrato dele andava em toda parte De Pedro Ivo não conhecia as feições, mas conhecia os belos versos de Álvares de Azevedo, onde os rapazinhos do meu tempo aprendiam a derrubar (de cabeça) todas as tiranias.

(Fonte da imagem: 
http://noticias.r7.com/blogs/eduardo-marini/2009/10/10/os-negros-os-pardos-e-o-ensino-superior-brasileiro/ )

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Vontade de Patrimônio

  No final do ano de 2008, próximo as festividades de Natal e Ano-Novo, mais uma construção foi derrubada em Blumenau. No inicio da Alameda Rio Branco, uma região nobre da cidade, um casarão abandonado, que na minha lembrança mais remota havia abrigado uma pizzaria, foi demolido por ordem judicial com a alegação de oferecer perigo aos transeuntes e mendigos que ali ficavam (1). O ponto também havia se tornado local de consumo de drogas e estava abandonado há vários anos. O prédio estava, por iniciativa do poder público municipal, em processo de tombamento quando foi demolido. Seria salvaguardado como patrimônio edificado histórico e novamente resignificado. Convém destacar que os donos do imóvel não tinham interesse em reforma e, possivelmente nem no tombamento.
  É compreensível, que por tudo que nossa cidade e região passaram um mês antes, em novembro de 2008, este fato tenha passado despercebido pela maioria de nós. Talvez muitos não tenham notado a falta do casarão ou o terreno limpo que lá está até hoje. O fato do cidadão comum não perceber o patrimônio, em especial o edificado, pode ser algo que de uma maneira geral, represente uma normalidade. Com salvas exceções, não temos cultivado o habito de visitar museus e praças ou valorizar casas antigas de nossa cidade. Achamos todos bonitos ou feios, mas não as contextualizamos ou nos sentimos parte destas construções.
  O historiador francês Pierre Nora (1993) nos apresentou, na segunda metade do século XX, a perspectiva dos chamados “lugares de memória” (2), que em uma análise bem simplória, podem ser considerados os espaços eleitos para rememorar fatos e pessoas. Nesta perspectiva, o casarão da Alameda era um lugar de memória, pois a pizzaria era além de um espaço onde se encontravam os amantes da boa mesa, também o lugar onde se encontravam amigos, tínhamos sociabilidades, e fundamentalmente, memórias.
  O casarão demolido era uma via para a memória. Mas para grande maioria das pessoas, possivelmente, não. Entretanto seria patrimonializado pelo poder público. Seria mais um objeto da coleção de edificações históricas do município. “Definiu-se a colecção como um conjunto de objectos expostos ao olhar. Mas ao olhar de quem?” (POMIAN, 1984, p.63). As cidades patrimonializadas são fruto de constantes investimentos das esferas públicas e privadas na memória. A memória é escolhida, e toda escolha suprime uma alternativa. É a relação memória e esquecimento.
  Neste simples exemplo da demolição do casarão abandonado da Alameda Rio Branco, podemos perceber a falta daquilo que chamo de “vontade de patrimônio”. Vontade de patrimônio é o sentimento para reconhecer que esses espaços histórico-patrimoniais blumenauenses precisam ser vistos como responsabilidade de cada um de nós. É preciso se sentir parte destes museus, arquivos, centros de memória, espaços culturais e edificações. Mas, não estou colocando a culpa desta situação só sobre nós, civis. Sei que as esferas de poder público têm responsabilidade também. Um exemplo é o caso dos próprios museus em nossa cidade. Temos atualmente mais de dez museus em Blumenau, sendo que dois serão inaugurados nos próximos dias, um público e um privado. São vários, de autarquias e secretarias diferentes e, com sérios problemas. E o pior, não há conversa entre esses museus para atuarem em conjunto na solução de seus males; atuam com gestões descentralizadas.
  Entretanto, algumas atitudes que buscam primordialmente fazer pensar e valorizar os patrimônios começam a florescer em Blumenau, reverberando a tal vontade que falo. Nesta perspectiva, podemos destacar as ações do projeto “Patrimônio em Movimento: história, memória e cidade”; as ações do Grupo de Estudos do Patrimônio Cemiterial; as ações relacionadas aos Estudos do Patrimônio Ferroviário, ligando possibilidades de cicloturismo; e, ações de educação patrimonial promovida pela Gerência de Patrimônio Histórico de Blumenau. É possível destacar outras ações, entretanto como as citadas acima, são pontuais. Algumas com promessa de continuidade.
  Para exemplificar mais a questão complexa dos patrimônios, poderia falar também dos casarios e praças abandonadas. Mas prefiro não me ater a isso, pois todos vêem. Por isso, chamo as atenções para todos nós, civis e poder público, para o primeiro passo no cultivo da vontade de patrimônio: conversar sobre o assunto. A discussão das idéias e, conseqüentemente as atitudes, salvaguardam e valorizam o patrimônio. O casarão da Alameda Rio Branco, onde era a pizzaria, carregado de histórias e memórias, ruiu porque não nos enxergávamos nele. Ele não era parte de nós. Se isso não mudar, continuaremos com o descaso com os museus, praças e casas derrubadas sorrateiramente, enfim “nossos” lugares de memória.


Notas
(1).FRESARD, Francisco. Napolitana, só na lembrança. Jornal de Santa Catarina, Blumenau, 19 dez. 2008, Mercado Aberto, p. 14.
(2).“Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notoriar atas, porque estas operações não são naturais” (NORA, 1993, p.13).


Referências

FRESARD, Francisco. Napolitana, só na lembrança. Jornal de Santa Catarina, Blumenau, 19 dez. 2008, Mercado Aberto, p. 14.

NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em Historiada, PUC - SP. Nº 10, 1993.

POMIAN. K. Colecção. In: Enciclopédia Einaudi – Memória-História. Lisboa: Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1984. v.1, p. 51-86.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011